Médicas e médicos da rede municipal de SP paralisam atividades contra precarização do trabalho

Publicado em 18 de Janeiro de 2022 às 09h26. Atualizado em 18 de Janeiro de 2022 às 09h58
Foto: Simesp

Médicas e médicos das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e de outros serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) do município de São Paulo paralisam as atividades na quarta-feira (19) devido às jornadas intermináveis de trabalho, unidades de saúde superlotadas, falta de insumos, cobrança de metas, pagamentos atrasados e equipes exaustas. Atualmente, seis em cada dez unidades de saúde são controladas por Organizações Sociais de Saúde (OSS), empresas terceirizadas.

A decisão, que ocorre durante a explosão de casos de Covid-19 devido à variante Ômicron, foi tomada em assembleia na última quinta-feira (13), com a participação de cerca de 150 profissionais que atuam nas unidades básicas da capital paulista.

A categoria havia estabelecido a segunda-feira (17) como data limite para uma reunião com a Secretaria Municipal de Saúde para tratar da contratação de profissionais de saúde e condições mínimas de trabalho. Porém, após se reunirem com o secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, na tarde de segunda, o Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) decidiu manter a paralisação da categoria marcada para quarta (19) por entender que a prefeitura não apresentou nenhum plano de contingência ou de reposição das e dos profissionais afastados. 

Em nota, o Simesp relatou que as e os profissionais estão sofrendo uma sobrecarga de trabalho no combate à pandemia de Covid-19 e à epidemia de H3N2, que é uma variante do vírus Influenza A, e denunciou a falta de medicações e materiais básicos.

“Não estamos conseguindo oferecer o cuidado necessário à população e não achamos justo que você fique aguardando por horas na fila, às vezes na chuva, para receber um atendimento. Isso depois de meses de espera pela consulta e quando chega a sua vez você encontra uma médica ou um médico em estado de exaustão, sem tempo e sem recursos para te acolher da forma como você precisa e merece. Muitas medicações essenciais estão em falta nas farmácias dos serviços de saúde, assim como materiais básicos para examinarmos as pessoas durante uma consulta. A sobrecarga que vivemos não é novidade”, afirma o sindicato.

Problema antigo
Ainda em nota, o sindicato afirma que o problema da falta de pessoal é anterior à pandemia, embora a crise sanitária tenha agravado ainda mais a situação. O Simesp conta que ao longo de 2021, houve inúmeras tentativas de diálogo com a Prefeitura e com as Organizações Sociais de Saúde (OSS) que administram as unidades de saúde. No último mês, segundo o comunicado, foi informado sobre as condições mínimas que a categoria precisava para  conseguir atender as pessoas do município, mas nada foi resolvido. “Há muito tempo, temos UBS com equipes insuficientes para atender adequadamente a população, mas a pandemia de Covid-19 extrapolou os nossos limites e tem sido impossível oferecer cuidado em saúde às pessoas que atendemos. Não somos máquinas e também estamos adoecendo e morrendo!”, ressalta o texto.

Afastamentos
O avanço da variante Ômicron no Brasil, somado à epidemia de influenza, atingiu em cheio as e os profissionais da saúde. Já são 1.600 afastamentos na rede pública municipal, em São Paulo, e o número pode piorar nas próximas semanas, quando haverá o pico da contaminação pela Covid-19.

Com a falta de profissionais, os governos estão apostando em soluções perigosas como a redução, de 10 para 7 dias, no tempo da quarentena dos infectados assintomáticos. Na segunda-feira (10), a Confederação Nacional da Saúde solicitou ao Ministério da Saúde que profissionais sem sintomas sequer fossem afastados.

As respostas do poder público e das Organizações Sociais de Saúde (OSS) divergem, segundo o Simesp. “A Prefeitura diz ter autorizado o pagamento das horas extras e a contratação de trabalhadores, medicamentos e insumos pelas OSS. Porém, elas se bastaram a dizer que isso é de responsabilidade do poder público. A pasta afirma que nenhum profissional da APS é obrigado a comparecer em fins de semana e feriados. Contudo, recebemos denúncias das gerências das OSS convocando para o trabalho nesses dias, sem antecedência mínima e por WhatsApp. Além disso, até o momento, não houve resposta ao Simesp para as solicitações de reunião e, muito menos, implementaram medidas concretas e imediatas para garantir condições adequadas de trabalho ou diminuir o número de contaminações”, diz o sindicato.

Terceirização na saúde
Atualmente, seis a cada dez unidades de saúde, em São Paulo, são controladas pelas OSS, ou seja, são terceirizadas. Juntas, as Organizações Sociais controlam mais 67% das UBS. No entanto, em alguns bairros da periferia, mais de 80% dos serviços foram repassados a iniciativa privada.

A consequência desse processo de privatização do Sistema Único de Saúde (SUS) está refletida na atual crise da falta de profissionais e insumos, resultando no péssimo atendimento à população. Além disso, é papel do Estado garantir o direito à saúde a toda população.

Com informações da CSP-Conlutas

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