Dois ex-diretores de uma fábrica local da montadora americana Ford foram condenados, na terça-feira (11), na Argentina, por cumplicidade na perseguição, sequestro e tortura de trabalhadores da companhia, durante a ditadura no país.
O caso envolve o sequestro, em 1976, de 24 trabalhadores de uma fábrica da Ford nos arredores de Buenos Aires. Os funcionários eram dirigentes sindicais. Segundo a promotoria, a fábrica tinha cem representantes sindicais e 24 deles foram detidos. A repressão ocorreu muitas vezes no próprio local de trabalho e com listas elaboradas pela empresa.
É a primeira vez que ex-funcionários de uma multinacional com atuação na Argentina são condenados por crimes contra a humanidade.
Os ex-diretores locais da Ford, Pedro Muller e Hector Sibilla, foram condenados a 10 e 12 anos de prisão, respectivamente, pelo envolvimento no sequestro e tortura dos trabalhadores, disse Elizabeth Gomez Alcorta, uma advogada que representa as vítimas. Sibilla é ex-diretor de segurança da empresa e Pedro Muller, ex-gerente de manufatura.
Conforme uma nota da agência oficial de informações do Judiciário da Argentina, Muller e Sibilla “forneceram os meios necessários” para agentes da ditadura identificarem integrantes importantes do sindicato que representava trabalhadores da fábrica “para que eles pudessem ser detidos”.
Eles foram acusados de fornecer fotografias, endereços residenciais e outros dados pessoais das vítimas aos agentesda repressão. Ainda segundo a denúncia, a dupla também “permitiu que um centro de detenção fosse montado dentro das instalações da fábrica, na área de lazer, para que os sequestrados pudessem ser interrogados”.
A Argentina foi governada por uma ditadura militar-empresarial entre os anos de 1976 a 1983. Cerca de 30 mil cidadãos foram assassinados no período.
A Ford Argentina disse em nota que não foi parte envolvida no processo e que cooperou inteiramente com os promotores.
Tomas Ojea Quintana, outro advogado das vítimas, informou a agências de notícias que estão avaliando processar a Ford Motor nos Estados Unidos.
“Está claro que a Ford Motor Company tinha controle da subsidiária argentina durante a década de 70. Portanto, há uma responsabilidade direta da Ford Motor Company e isso pode nos dar a possibilidade de levar o caso a tribunais dos EUA”, disse Quintana.
*Com informações da BBC e da Deutsch Welle. Imagem: Carta Capital
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