A Universidade Federal do Ceará (UFC) apresentou na última quarta-feira (3) uma Proposta Pedagógica de Emergência (PPE) para a retomada das atividades acadêmicas e a conclusão do primeiro semestre de 2020. No país, há uma grande pressão para que as instituições de ensino superior (IES) públicas desenvolvam atividades remotas em substituição às aulas presenciais.
A UFC, por meio do documento, estabelece a possibilidade de três modelos de ensino-aprendizagem: o remoto, que deverá ser priorizado, tendo em vista que não há expectativas, em curto prazo, para a retomada segura de 100% das aulas presenciais; o híbrido, que mescla atividades on-line e apenas algumas presenciais, intercalando conteúdos que se complementam; e o presencial, apenas para atividades consideradas extremamente necessárias, como estágios e aulas práticas.
Na última sexta-feira (5), o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC Sindicato) publicou um manifesto em reação à proposta de retomada das aulas divulgada pela UFC. No documento, o sindicato denuncia que a proposta apresentada pela universidade é “mais um retrato do voluntarismo e do improviso a que estamos submetidos na UFC em meio à pandemia”. “O objetivo maior da reitoria tem sido, em toda a gestão da crise, forjar uma normalidade inexistente e maquiar problemas e dificuldades, para não se comprometer com soluções reais e satisfatórias”, diz a nota.
De acordo com Bruno Rocha, presidente do ADUFC Sindicato, as discussões para elaboração das diretrizes da Proposta Pedagógica de Emergência foram encerradas de forma precoce e sem um debate amplo com a comunidade acadêmica. “Um processo de construção coletiva não pode ser baseado em um texto pré-escrito pela pró-reitoria de graduação (Prograd), precisa ser construído com base nas especificidades de cada curso, o que não foi feito e por isso a nossa dificuldade em aceitar esse tipo de formato e condução antidemocrática”, critica.
Falta de acesso à internet e tecnologias
No seu site, a UFC divulgou, no dia 2 de junho, que a grande maioria dos estudantes da universidade tem acesso à internet e, apenas, 1% dos estudantes não teria acesso à internet, segundo uma pesquisa feita pela instituição no mês de maio. De acordo com o Diretório Central dos Estudantes (DCE), esse resultado não condiz com a realidade, já que cerca de 20 mil estudantes não responderam a pesquisa. Para o presidente do ADUFC, um formulário on-line para saber se os estudantes têm acesso à internet não pode ser a única alternativa para fazer um levantamento e, ainda, concluir que os estudantes têm acesso e podem ter ensino à distância.
Segundo Rocha, conforme os dados do Observatório de Políticas Públicas - grupo de pesquisa da UFC -, cerca de 70% dos alunos da universidade têm renda familiar de até três salários mínimos. “Os problemas da substituição da carga horária de atividades presenciais por aulas remotas, além da perda da qualidade do ensino, é que temos boa parte dos nossos estudantes com dificuldade de acesso à internet e tecnologias pela situação socioeconômica e isso demonstra que efetivamente ter um computador, um celular de qualidade, uma rede de internet que contemple as atividades remotas ou as aulas por videoconferência, por duas horas, pelo menos, não seria viável para a maioria dos estudantes”, afirma.
Bruno Rocha ressalta também as dificuldades enfrentadas pelos docentes que precisam montar uma estrutural laboral em suas casas, com equipamento e internet de qualidade para planejar, elaborar e ministrar as aulas, e conciliar com os cuidados dos filhos, parentes idosos ou com comorbidades. Ele acrescentou, ainda, a recente perda de auxílios pelos professores da universidade e o aumento com os gastos de luz, internet, computador, entre outros, para realizar o trabalho remoto.
“No dia 12 de maio, o conselho de representantes do sindicato deliberou por unanimidade pela suspensão do calendário, por tempo indeterminado, e a manutenção desse status até ter uma proposta que contemplasse as peculiaridades de cada uma das unidades e cursos. Anterior a essa decisão, fizemos um levantamento com os docentes da UFC, neste período de isolamento, que mostrou que 77,6% se colocaram contra a substituição de atividades presenciais por remotas”, pontua.
Atividades remotas
No dia 1º de junho, o Ministério da Educação (MEC) homologou um documento com orientações para as escolas da educação básica e IES durante a pandemia da Covid-19. O documento aborda desde diferentes atividades de ensino remoto, até a transição de estágios e práticas de extensão para modalidades virtuais, por exemplo, passarão a valer como carga horária do calendário acadêmico. Leia mais.