Trabalhadores da Ford protestaram contra o fechamento das fábricas da montadora em Camaçari, região metropolitana de Salvador (BA), e em Taubaté, município de São Paulo, na manhã desta terça-feira (12). As unidades serão fechadas imediatamente, segundo a empresa, mantendo apenas a produção de peças para os estoques de pós-venda.
O anunciou foi feito na segunda-feira (11). A unidade da Troller, em Horizonte (CE), está prevista para encerrar as atividades no último trimestre de 2021.
O impacto do anúncio de fechamento das unidades será trágico para os trabalhadores. Camaçari será a mais afetada, uma vez que a empresa conta com aproximadamente 3.500 trabalhadores na área operacional daquela planta. Em Taubaté, há ao menos 830 funcionários, ligados à produção. Em Horizonte há 470 empregados. Estima-se que entre trabalhadores contratados direta e indiretamente, esse número chegue a 15 mil pessoas afetadas com o fechamento das unidades.
Segundo os sindicatos dos Metalúrgicos de Camaçari e de Taubaté e Região o anúncio do encerramento da produção de veículos no Brasil foi feita de forma inesperada e sem diálogo para encontrar outra solução que não fosse o fechamento das unidades no país.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região (Sindmetau), Claudio Batista, critica a forma unilateral que o anúncio foi feito pela empresa, sem qualquer negociação com o Sindicato. “O Sindicato vai fazer toda luta necessária para tentar reverter essa situação.” Os trabalhadores contam com estabilidade no emprego até dezembro de 2021, resultado dos acordos de redução de jornada e salários firmados durante a pandemia.
De acordo com o Sindmetau, a Ford foi beneficiada por uma série de isenções fiscais ao longo dos 53 anos em Taubaté, onde produz atualmente motores e transmissão.
Já em Camaçari, a Ford estava instalada desde 2001 e durante todos esses anos contou com incentivos fiscais. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim, a Ford foi irredutível e demonstrou claramente que não tem interesse em continuar no Brasil, sendo imediato o fim da produção de veículos. “O encerramento pegou todos de surpresa. Após quase duas décadas lucrando em Camaçari, a Ford fecha as portas sem nenhuma negociação, numa situação lamentável e de completo desrespeito com os milhares de trabalhadores”, diz Bonfim.
A Ford afirmou em comunicado que a pandemia da Covid-19 “amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas” e, para isso, foi necessário alocar o capital em outro lugar para “atingir uma margem corporativa EBIT de 8% e gerando um forte e sustentável fluxo de caixa”. O EBIT é um dos principais indicadores analisados pelos investidores. Em 2019, a Ford já havia encerrado a produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP). Em outubro de 2020, a fábrica foi vendida para a Construtora São José e a FRAM Capital. Isto, após 52 anos de funcionamento. A unidade empregava 2,8 mil de trabalhadores.
* Com informações dos sindicatos dos Metalúrgicos de Camaçari e de Taubaté e Região, e da CSP-Conlutas. Foto: Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari