Políticas públicas, financiamento, gestão, condições de trabalho e formação de professores no Ensino à Distância (EAD) foram alguns dos temas debatidos no Seminário Nacional de EAD do ANDES-SN. O evento ocorreu, nos dias 8 e 9, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), cumprindo as resoluções do 37º Congresso da entidade, com o objetivo de debater pautas importantes para os docentes que trabalham sobre a modalidade EAD.
A primeira mesa, realizada no sábado (8), debateu “Políticas Públicas de Ensino a Distância no Brasil”, com as expositoras Olinda Evangelista, da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc) e Raquel Moraes, da Universidade de Brasília (UnB).
Segundo Raquel Moraes, o ensino à distância no Brasil segue a lógica privatista. “Essa economia do conhecimento não é para todos, é para uma elite que estuda em universidades que desenvolvem a produção do conhecimento. Para quem não é elite, o ensino superior é voltado para as áreas de serviço”, disse. “Temos que mudar essa lógica para que todos sejam produtores e compartilhadores de conhecimento”, completou.
Financiamento, Gestão e Avaliação
A temática “Financiamento, Gestão e Avaliação no EAD” foi apresentada pelos docentes Otaviano Helene, da Universidade de São Paulo (USP), e Juliana Melim, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Otaviano avaliou que o grande problema do EAD no Brasil deve-se a sua implementação e ao seu crescimento no país. “No lugar de ser mais uma oferta de educação para as pessoas, ele acabou ocupando o espaço do ensino presencial”. Para ele, o EAD foi hiperdimensionado e não resolveu o problema quantitativo de formação de quadros profissionais do Brasil. O docente da USP citou também o alto índice de evasão dos cursos de EAD.
Para Juliana, o projeto de expansão do EAD de graduação no Brasil serve aos interesses do capital. “Esse modelo privatista de educação e a expansão do ensino superior vem ocorrendo, sobretudo, nas instituições privadas não universitárias”, disse.
Trabalho Docente, Organização e Luta
A última mesa “Trabalho Docente, Organização e Luta do(a)s Trabalhadore(a)s” contou com a presença de Rosemary de Oliveira da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Leonardo Castro da Unirio. “Não que eu seja fervorosamente um defensor do EAD, mas eu acho que temos todas as condições de fazer com que esse ensino efetivamente democratize a formação superior, com ensino, pesquisa e extensão e fazer algo de qualidade”, afirmou Leonardo, que leciona no EAD há 18 anos.
Já Rosemary avaliou que o EAD vem se modificando nos últimos anos e tratando de questões como planejamento dos currículos e das atividades que demandam, atualmente, as competências do tutor, do professor coordenador e de todos os agentes que fazem parte da educação à distância. “São várias as críticas sobre a precarização do trabalho. Uma delas, por exemplo, diz respeito ao salário que é em forma de bolsa, por prazo determinado”.
Para a docente, apesar da precariedade das condições de trabalho dos docentes do EAD, existem professores debatendo essa modalidade, publicando artigos, dissertações e teses nessa aérea. “Além da luta pela melhoria do trabalho, no aspecto financeiro e de infraestrutura, é preciso mudanças na concepção curricular e do que é realmente a educação online e, ainda, o papel do tutor e do professor nesse cenário”, ressaltou.
Formação docente
No segundo dia do seminário, 9, foi realizada, a mesa “Impactos do EAD na Formação do(a)s Professore(a)s”, com a presença dos docentes Carmenísia Aires, da UnB, e Allan Seki da Ufsc.
Segundo Allan Seki, a expansão do EAD no setor privado tem sido uma política de Estado no Brasil. “O ensino à distância público serve como uma forma de expandir o EAD privado. O EAD tem se caracterizado como certificação de massa, agregando poucos recursos de mediação com conhecimento para os estudantes, e ocorrendo em um cenário extremamente mercantilizado. Grandes grupos controladores de matrículas na educação superior têm conseguido concentrar e centralizar capitais no ensino”.
Já Carmenísia achou que o debate teve contribuições importantes e que é necessário aprofundar a discussão sobre EAD no âmbito do movimento docente. “Mostrei números e dados de matrículas em EAD e relacionei isso à formação desses estudantes. Falar em qualidade sem falar em formação não adianta. É necessário trabalhar mais a importância da formação em EAD, ter preparo, planejamento, saber dialogar com os estudantes. Não é pensar em venda de produtos, em mercado, como fazem os que implementam essa Reforma [do Ensino Médio]”, afirmou.
Logo após o debate, foi realizada a plenária de encerramento do Seminário Nacional de EAD do ANDES-SN.