Se o guerreiro é forjado conforme a luta, esse primeiro de maio de 2020 é um dos mais desafiantes, se não o mais, de toda a história trabalhista brasileira. O Dia de Luta do Trabalhador e da Trabalhadora não será celebrado nas ruas, vazias - enquanto as UTIs e hospitais encontram-se superlotados. Mais de um milhão de cidadãos estão mortos pela covid-19 e o Brasil apresenta o maior número de infectados pelo novo coronavírus entre todos os países, número meramente estimado pois a subnotificação é flagrante. A pandemia é o evento mais dramático que, no entanto, está longe de ser o único que vitima a classe trabalhadora nacional nesse momento. Está em curso um projeto cruel, que já caminhava a passos largos, mas conseguiu imprimir velocidade de cruzeiro com o advento da pandemia.
Mesmo forçadamente distantes do cenário por excelência das passeatas de luta por direitos, a necessidade de mobilização do(a)s trabalhadore(a)s é mais necessária do que nunca. Os movimentos sociais não acontecem apenas nas ruas, haja vista a abundância de ‘lives’ e discussões que têm acontecido nas redes digitais. Metade da humanidade está confinada e a outra metade luta para se alimentar a cada dia. Nas favelas, o povo mostra uma capacidade de organização extraordinária, insuspeita até agora. Os próprios moradores avaliam necessidades mais prementes, recolhem doações e distribuem conforme a urgência de cada família, conferem todos os dias o estado de saúde dos moradores e tomam para si a responsabilidade pela própria sobrevivência.
As menos valorizadas categorias de trabalhadores são hoje mais reconhecidas do que em qualquer outro momento: os ‘invisíveis’ entregadores, ‘empreendedores de si mesmos’, ou, em visão menos romântica e mais realista, subempregados; os profissionais de saúde, hoje com o heroico nome de ‘linha de frente’, habituados a conviver com baixos salários e precárias condições de trabalho, agora convivendo também com um vírus mortal; as faxineiras, acostumadas a eliminar a sujeira alheia, agora celebradas por quem tem a tarefa de arrumar e limpar a própria casa; os professores, especialmente os infantis, que finalmente têm a importância reconhecida por pais desesperados frente à dificuldade de ensinar e entreter os próprios filhos; garis, caixas de supermercados, atendentes de farmácias e outros.
Quando a pandemia passar, os rentistas poderão comemorar a volta dos juros aos patamares anteriores, mas ao(à)s trabalhadore(a)s estará reservada a provável maior recessão da história, ainda mais terrível que a de 1929. Junto com ela, atentados que as elites econômicas têm conseguido aprovar graças à bem sucedida implantação de seus agentes nas estruturas de poder.
Terceirização de contratações no serviço público; reforma trabalhista; da Previdência; o Plano Mais Brasil, formado pela PEC Emergencial (PEC 186/2019), a PEC dos Fundos (PEC 187/2019) e a PEC do Pacto Federativo (PEC 188/2019), que pretende o reequilíbrio fiscal reduzindo jornada e salários do funcionalismo, suspendendo concursos e proibindo progressões funcionais (exceto para categorias como militares, juízes, membros do Ministério Público, policiais e diplomatas).
Como combater o ataque do capital contra a classe trabalhadora? A única combinação possível é a que une educação para a justiça social e mobilização. A primeira, está sob forte ameaça privatista e demolidora, pela EC 95/2016 do Teto dos Gastos, pela ameaça de criminalização de professores através da Lei da Mordaça (Escola sem Partido); condução de interventores no lugar de reitores escolhidos pela comunidade acadêmica; e todo um conjunto de medidas que compõem um projeto maior, que tem a finalidade de alienar a população e aumentar o fosso das desigualdades. Serão inúmeros os ataques, até que a classe trabalhadora fabrique ela mesma o antítodo ao veneno capitalista com o trunfo que ela tem nas mãos: a sua capacidade de mobilização.