MPF arquiva inquérito contra docente vítima de perseguição política na UFPB

Publicado em 29 de Novembro de 2024 às 19h23. Atualizado em 29 de Novembro de 2024 às 19h24

O Ministério Público Federal (MPF) arquivou, na terça-feira (26), o inquérito policial que investigava o professor Marcio Silva, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por supostos crimes contra a honra. A investigação foi motivada por falas do docente durante uma audiência pública este ano, na Câmara dos Deputados.

Professor Marcio Silva durante audiência na Câmara de Deputados em abril de 2024. Foto: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN

No dia 16 de abril, o Comando Nacional de Greve do ANDES-SN participou da audiência pública “Processo democrático de destituição do reitor interventor da UFRGS”. Durante a sessão, Márcio Silva, professor da universidade e 2º tesoureiro da Regional Nordeste II do Sindicato Nacional, denunciou a intervenção na UFPB e cobrou providências do Ministério da Educação (MEC).

Em sua fala, o docente criticou também a atuação do Procurador-Chefe da UFPB, Carlos Mangueira, apontando práticas que considerou ilegais e arbitrárias no contexto da gestão universitária. “O Procurador Federal da República, Carlos Mangueira, fez todo tipo de ilegalidade, arbitrariedade e manobra protelatória para que esse processo [de destituição do reitor da UFPB] não avançasse”, disse o docente à época.

O MPF reconheceu que as declarações de Marcio Silva estavam protegidas pelo direito à liberdade de expressão, garantido pela Constituição Federal. Em sua decisão, o órgão destacou que as falas não configuraram crime, pois não tinham o objetivo de ofender pessoalmente o procurador, mas de criticar decisões administrativas da universidade.

"Da análise contextualizada do discurso proferido, percebe-se que não visa a atacar características pessoais ou a honra do Procurador-Chefe da UFPB, senão demonstrar o inconformismo com decisões administrativas tomadas no âmbito da referida instituição de ensino", afirmou o procurador da República, no parecer que determinou o arquivamento.

Perseguição política
A decisão de arquivar o inquérito contra Marcio Silva é uma vitória no contexto de perseguições políticas na UFPB. Desde 2020, sob a gestão do reitor interventor Valdiney Gouveia, a universidade foi palco de repressões a docentes, técnicos e estudantes que se posicionaram contra a intervenção federal.

Além de Márcio, outros três professores da UFPB — Daniel Antiquera, Marília Bregalda e Mojana Vargas — também foram alvos de investigações conduzidas pela Polícia Federal. Esses casos evidenciam uma política sistemática de intimidação e criminalização de movimentos legítimos de protesto e oposição às intervenções.

Apoio do ANDES-SN
O ANDES-SN acompanhou de perto o caso, oferecendo apoio jurídico, político e sindical ao professor Marcio Silva. A atuação do Sindicato Nacional foi crucial para sensibilizar as autoridades envolvidas, destacando o caráter político das denúncias. Para Marcio Silva, o arquivamento do inquérito é uma conquista para o movimento docente. 

"Essa política de perseguição tem o objetivo de assustar e reprimir, mas o arquivamento do inquérito representa uma derrota porque mostra que a acusação não tinha base. Essa vitória prova que eles estavam promovendo perseguição política e que não havia crime, como eles haviam denunciado para a Polícia Federal. É uma vitória contra a perseguição política ao movimento", declarou.

Segundo Manuela Abath, advogada da Regional Nordeste II do ANDES-SN, o Sindicato Nacional contratou um escritório especializado na área criminal para acompanhar o caso do docente.  “Nossa atuação contribuiu significativamente para sensibilizar a decisão do procurador, em relação ao que foi dito pelo professor em seu depoimento à polícia. Essa vitória reforça o direito de se manifestar, sem que isso seja interpretado como uma ofensa pessoal à honra, mas sim como uma forma legítima de qualificar uma gestão, uma política ou um representante político", afirmou Abath.

Democracia
Em abril, as professoras Terezinha Domiciano e Mônica Nóbrega foram eleitas em consulta prévia para compor a lista tríplice como reitora e vice-reitora da UFPB. Com 67,95% dos votos, a votação presencial, que se estendeu por 11 horas, confirmou o amplo apoio da comunidade acadêmica. Elas assumiram os cargos neste mês, inaugurando uma nova fase na instituição.

A gestão do ex-reitor interventor Valdiney Gouveia, indicado por Jair Bolsonaro em 2020, foi marcada por perseguições políticas contra servidoras, servidores e estudantes que se posicionaram contra as intervenções federais nas universidades. Durante seu mandato, docentes, técnicas, técnicos e discentes foram alvo de inquéritos penais conduzidos pela Polícia Federal e de processos na ouvidoria interna, frequentemente sem qualquer fundamento fático ou legal.

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