Pelo terceiro final de semana seguido, manifestantes ocuparam as ruas em diversas partes do país em manifestações antirracistas, antifascistas e pelo Fora Bolsonaro. Atos foram chamados por diversos grupos e buscaram manter o distanciamento necessário e o uso de máscaras, respeitando as orientações dos órgãos de saúde nacional e internacionais.
Em Brasília, na manhã do sábado (13) houve carreata na Esplanada dos Ministérios. Com faixas, adesivos e bandeiras, manifestantes pediram a saída do presidente Bolsonaro e cobraram o fim do racismo e a defesa da democracia e dos direitos. Um boneco inflável, com a imagem do presidente com sangue e armas, foi armado na Biblioteca Nacional para simbolizar as atrocidades do governo. Em Manaus (AM) também houve protesto no sábado, com passeata no centro histórico.
“Fora Bolsonaro. A sua gripezinha já matou 40 mil” trazia inscrita uma enorme faixa que tomou a Avenida Paulista, em São Paulo, na tarde do domingo (14). A manifestação na capital paulista reuniu centenas de manifestantes, entre torcedores antifascistas de vários times de futebol, movimentos sociais, de luta contra as opressões, partidos políticos de esquerda e juventude.
O ato em São Paulo foi marcado também por uma cena única que representa a unidade na luta pelas liberdades democráticas: a chegada de torcedores antifascistas palmeirenses foi aplaudida por corintianos, santistas e outros que já se encontravam na concentração no Vão do Masp. Porto Alegre (RS) e Fortaleza (CE) também foram palco de protestos pelo fim do governo Bolsonaro, contra o racismo e em defesa da democracia.
“As dificuldades da vida concreta diante da pandemia e a luta antirracista têm colocado segmentos da classe trabalhadora em movimento por direitos e liberdades democráticas. Tais atos merecem o nosso apoio, com a ressalva dos cuidados que devem ser tomados para evitar a disseminação da Covid-19”, avalia Antonio Gonçalves, presidente do ANDES-SN.
Para o dirigente, essas manifestações, bem como outras formas de protesto, são fundamentais para expressar a oposição ao governo Bolsonaro em um momento que impõe o distanciamento e isolamento social. “Até bem pouco tempo havia apenas atos de apoiadores do Bolsonaro, com uma pauta fascista de ataques ao ordenamento democrático vigente. E o retorno do campo popular às ruas, mesmo em atos que não são de massa, é importante para mantermos nossa mobilização enquanto não podemos voltar a ocupar as ruas com multidões”, acrescenta.
Bolsonaristas fazem novos atentados à democracia
Nesse final de semana, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro protagonizaram novos atos de caráter antidemocrático, reivindicando o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF), insultando ministros do Judiciário e parlamentares, além do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.
Após a Polícia Militar desmontar, no sábado pela manhã, o acampamento do grupo denominado 300, que estava na Esplanada dos Ministérios e havia suspeitas de contar com pessoas armadas, apoiadores bolsonaristas tentaram invadir o Congresso Nacional. Na noite do mesmo dia, realizaram ato em frente ao STF atirando fogos de artifício em direção ao prédio. No domingo, realizaram novo protesto, mesmo com a Esplanada fechada e os atos proibidos pelo governo distrital, sob a alegação de ameaça à saúde e ao patrimônio público.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub participou da manifestação pró-Bolsonaro. Sem máscara, o responsável pelo MEC cumprimentou diversas pessoas que estavam aglomeradas. Ele discursou para um grupo em frente ao Ministério da Agricultura. Sua fala foi divulgada em redes sociais.
Além de trechos que remetem a insultos já proferidos aos ministros do STF, Weintraub voltou a atacar os cursos de Ciências Humanas. "Eu, como brasiliero, eu quero ter mais médico, mais enfermeiro, mais engenheiro, mais dentista. Eu não quero mais sociológico, antropológico, não quero mais filósofo com o meu dinheiro", declarou o ministro, falando que as universidades são financiadas com recursos advindos de impostos.
“O comportamento e a fala ministro Weintraub sintetizam o retrocesso civilizatório que o atual governo defende, nega as evidências científicas quando se recusar a usar máscara e ainda defende abertamente a hierarquização dos diversos campos da ciência, o que entendemos como inaceitável e deplorável. Tal pensamento tem concretude nos cortes de recursos e bolsas de pesquisa da CAPES e do CNPq”, critica o presidente do ANDES-SN.
O ministro Weintraub foi multado em R$ 2 mil, pelo governo do Distrito Federal, por desrespeitar o decreto que proíbe aglomerações e a circulação em locais públicos sem o uso de máscara.
Nessa segunda-feira (15), bolsonaristas foram detidos pela polícia. Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, e mais cinco integrantes de movimento bolsonarista foram detidos provisoriamente em investigação de atos antidemocráticos, suspeitos de crime contra a Lei de Segurança Nacional.
“As prisões de manifestantes que atentam contra as instituições e as liberdades democráticas são tardias, mas demonstram que já há um entendimento, por uma parte da burguesia nacional, que atos protofascista devem ser coibidos antes que seja tarde demais”, avalia Antonio Gonçalves.
* com informações da CSP-Conlutas e o Estado de SP.