Na mesma data em que Marielle Franco completaria 43 anos de idade, no dia 27 de julho (última quarta-feira), uma estátua em sua homenagem foi inaugurada na Praça Mário Lago, conhecido como Buraco do Lume, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O local é onde a parlamentar, assassinada em 2018, costumava prestar contas, semanalmente, da atuação de seu mandato de vereadora.
De tamanho real, a estátua foi esculpida pelo artista plástico Edgard Duvivier e custeada através de uma campanha de financiamento coletivo organizada pelo Instituto Marielle Franco. O evento atraiu familiares, amigas, amigos, admiradoras e admiradores de Marielle, que celebraram a sua vida e memória e, ainda, cobraram justiça para o crime que ceifou a vida da ex-vereadora e do motorista Anderson Gomes, executados a tiros no dia 14 de março de 2018.
Dois acusados de serem os autores dos assassinatos, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, estão em uma Penitenciária Federal de Segurança Máxima, no Mato Grosso do Sul, e vão a júri popular em data que ainda será definida. As investigações sobre os assassinatos ainda não foram concluídas e a sociedade cobra das autoridades a identificação dos mandantes do crime. Mais de quatro anos após a execução, a frase que ganhou o país e chegou inclusive ao exterior, continua sem resposta: Quem mandou matar Marielle?
Para Anielle Franco, irmã de Marielle, a imagem é "um símbolo de resistência e de amor” e um convite para debater a importância da memória, “discussão tão cara para o povo negro, em especial para as mulheres negras”. “Hoje é um dia de memória, dia de resinificar a nossa dor, a nossa luta. Tem sido quase 5 anos incansáveis pedindo por justiça, lembrando que a gente segue sem saber quem mandou matar a Mari. Ter essa estátua ressignificando esse lugar, onde ela esteve e discursou tantas vezes e onde muitas pessoas que votaram nela conheceram ela aqui, é muito especial. Para mim hoje, além da emoção do aniversário dela, é a importância de saber que a minha irmã está aqui, mais um pedacinho com a gente", disse.
"A memória é a semente para novos futuros" foi o tema da aula pública ministrada, durante o evento, pela professora Thula Pires e pela escritora Eliana Alves Cruz, com fala de abertura realizada pela ativista e militante do movimento negro, Fatou Ndiaye, de 17 anos.
“Quando a gente fala de memória, a gente fala de história, mas também fala das vivências das nossas tias, nossas mães, nossas mais velhas. O que a gente tem a aprender com as vivências das que vieram antes da gente e como elas podem nos ajudar a construir um futuro no qual a gente olhe para o nosso presente e diga: estamos fazendo história! Marielle fez história. Isso aqui que a gente está fazendo é história. Nos reunirmos nessa praça para lembrar a luta e a memória de uma das mulheres mais fenomenais que a política brasileira teve o prazer de ter como parlamentar. Olhar para o trabalho que ela vinha desenvolvendo e pensar como dar continuidade para ele. Eu vejo a educação como chave pra isso. A gente não pode falar de resgate de memória sem falar de educação”, disse a jovem estudante.
Ao agradecer a participação de todas e todos os presentes, Anielle Franco também ressaltou a conjuntura difícil e a importância do autocuidado. “Nesse ano difícil, ano de muito ódio espalhado por aí - que a gente possa se cuidar, cuidar umas das outras. A pauta do autocuidado é uma pauta tão cara para gente e vou seguir sempre falando que nesta conjuntura em que o Brasil volta para o Mapa da Fome e onde as pessoas normalizam um homem negro morrer asfixiado num camburão a gente precisa se unir, estar junto e se cuidar. Cuidem dos seus, das suas, e de vocês sempre!”, alertou.
O encerramento ficou por conta do Slam Justiça por Marielle, com batalhas rap e poesia.
Fonte: Aduff SSind.,com edição e acréscimo de informações do ANDES-SN. Fotos: Luiz Fernando Nabuco / Aduff SSind.