Entidades denunciam tentativa de desmonte do Programa de Proteção de Defensoras/es de Direitos Humanos do RJ

Publicado em 11 de Janeiro de 2022 às 17h25. Atualizado em 12 de Janeiro de 2022 às 12h28
Relatório apontado em dezembro aponta desmonte do PPDDH em todo o país

O Instituto Marielle Franco e as organizações Justiça Global e Terra de Direitos denunciaram em nota divulgada na segunda-feira (10) a tentativa de desmonte do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH) do estado do Rio de Janeiro. 

Segundo nota conjunta divulgada pelas entidades, entre o final de dezembro e o início de janeiro “recebemos a informação de que o Estado do Rio de Janeiro, por meio da sua secretaria de desenvolvimento social e direitos humanos, negligenciou a proteção de defensores e defensoras de direitos humanos indígenas, ambientalistas, quilombolas, ativistas de favelas e periferias, parlamentares, atendidas pelo PPDDH RJ no estado.”

O programa tem como objetivo atuar no atendimento e acompanhamento dos casos de risco e de ameaça de morte de defensores e defensoras de Direitos Humanos, comunicadores e comunicadoras, e ambientalistas. 

“É vital que a incorporação dos Direitos Humanos seja tratada como política transversal, sendo o Estado brasileiro o responsável por garantir o funcionamento de um mecanismo de articulação entre diversas instituições responsáveis pelo enfrentamento das causas estruturais que geram as violações no contexto em que os defensores e defensoras estão inseridos”, afirma a nota.

Ainda de acordo com o documento, a equipe técnica do governador do Rio, Cláudio Castro, solicitou a administração de dados sensíveis de defensores ameaçados do Rio de Janeiro, o que é visto com muita preocupação pelas entidades.

Conforme a nota, a disponibilização destes dados às autoridades públicas pode promover a intensificação do risco e exposição das pessoas sob proteção, além de comprometer suas atividades na defesa de direitos e seus territórios. “É importante dizer que muitos dos algozes das pessoas ameaçadas estão também inseridas na estrutura pública”, alertam. 

“Reiteramos nosso repúdio e preocupação ao processo de desmonte que o PPDDH do Rio de Janeiro vem passando, e reafirmamos a necessidade do governador Cláudio Castro se manifestar favoravelmente no repasse de recurso imediato e direto ao programa, priorizando a proteção e compromisso público com a vida e trajetória de lutas de defensores e defensoras do Rio”, acrescentam.

Segundo a organização Global Witness, o Brasil ocupa quarto lugar no ranking dos países que mais matam defensores e defensoras de direitos humanos, atrás apenas de Colômbia, México e Filipinas. A situação fica ainda mais dramática quando se usa como base a série histórica da Organização das Nações Unidas (ONU): entre 2015 e 2019, foram 1.323 vítimas em todo o mundo, das quais 174 no Brasil, o que leva o país ao segundo lugar na lista dos mais perigosos para quem atua em defesa dos direitos humanos.

Pior momento do PPDDH no Brasil
Um levantamento divulgado pela Justiça Global e pela Terra de Direitos, em dezembro de 2021, concluiu que o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH) enfrenta uma grave crise que põe em risco ativistas em todo o Brasil.

O relatório “Começo do fim?” aponta o processo de desmantelamento do programa ao longo do governo Bolsonaro, que envolve desde a baixa execução orçamentária até a diminuição de casos incluídos no programa, passando pela insegurança política na gestão e pela inadequação quanto à perspectiva de gênero, raça e classe.

O documento lista as oito maiores ameaças ao programa, começando pela baixa execução orçamentária. Em 2019, menos de 17% do orçamento destinado para o programa foram pagos. Em 2020, de um orçamento de R$ 9.140.968,00, o governo liberou apenas 10,27%.

Outro aspecto importante que o estudo aponta é o esvaziamento ou extinção de conselhos ligados à defesa dos direitos humanos, a baixa institucionalização e a demora, insuficiência e inadequação das medidas de proteção. Em 2021, apenas nove programas estaduais estavam totalmente implementados e outros dois estão em fase de implementação.

Criado em 2004, o Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos no Brasil (PPDDH) nasceu vinculado à então Secretaria Especial de Direitos Humanos, mas, até hoje, segue sem a edição de uma lei federal que o institucionalize como política de Estado.

Confira aqui o relatório.

Fonte: Justiça Global, com edição do ANDES-SN

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