Enfermeiras e enfermeiros realizaram protestos em diversas cidades do país no Dia Internacional da Enfermagem, das Enfermeiras e dos Enfermeiros, 12 de maio. O dia de luta começou com um potente ato virtual com o #lutecomoumaenfermeira e diversos atos simbólicos por melhores condições de trabalho e em homenagem as vítimas da Covid-19.
Em Brasília, um boneco de 10 metros do presidente Jair Bolsonaro com mãos sujas de sangue foi inflado em uma praça central da capital federal. Três pessoas vestidas com jaleco e máscaras de proteção seguravam uma faixa com a frase de Bertolt Brecht: "Os que lavam as mãos, os fazem numa bacia de sangue". Os manifestantes repudiaram o comportamento de Bolsonaro diante de milhares de mortes no país e contra o seu incentivo ao fim do isolamento social, na contramão das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
No final da tarde, profissionais da saúde realizaram um ato em frente ao Museu da República em homenagem aos 108 colegas que perderam as suas vidas na linha de frente do combate ao novo coronavírus. Enfileirados, respeitando o distanciamento social e com máscaras de proteção, cada um trazia o nome de uma vítima nas costas e nas mãos, uma vela em homenagem aos mortos. Na medida em que os nomes eram projetados na cúpula do museu, um a um se deitava no chão. A emoção tomou conta do ato e muitos profissionais foram às lagrimas.
Em Cuiabá (MT) foram espalhadas cruzes pela cidade e distribuídas máscaras a população no centro da cidade no início da manhã. Segundo a Frente Popular em Defesa dos Serviços Públicos e de Solidariedade ao Enfrentamento da Covid-19, organizadora do ato, o objetivo principal era alertar para o risco que os profissionais de saúde estão submetidos diante da precarização do Sistema Único de Saúde (SUS). O protesto também relembrou a perda do enfermeiro Athaíde Celestino da Silva, de 63 anos, que faleceu em decorrência da Covid-19 após 37 dias de internação.
Na capital Palmas (TO), enfermeiras com máscaras de proteção carregaram cruzes e faixas para pedir melhores condições de trabalho e homenagear vítimas da Covid-19. O ato foi realizado pela manhã na Praça dos Girassóis. Poucos profissionais compareceram para evitar aglomeração. Em Rio Branco (AC), os servidores da Saúde fizeram um protesto para cobrar mais profissionais para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), uma da unidades referência para o tratamento da Covid-19. O ato ocorreu na segunda-feira (11). Segundo os manifestantes, a unidade ter um déficit aproximado de 20 técnicos em enfermagem.
No Pará, trabalhadores da saúde do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) fizeram um ato em frente à unidade. A categoria denunciou a reutilização de máscaras por cerca uma semana, quando as mesmas deveriam ser descartadas, por orientação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e da direção do hospital. Protestaram também contra a falta de testes para a população e de condições de trabalho. No Piauí, profissionais da enfermagem se concentraram em frente ao Hospital de Urgência de Teresina (HUT) no ato de Vigília pela Enfermagem. Na oportunidade, fizeram um minuto de silêncio pelas vítimas da Covid-19 e soltaram balões com nome dos mortos no Piauí. Os enfermeiros reivindicaram o adicional de insalubridade aos profissionais da Enfermagem do Município e equipamentos de proteção individual (EPIs), de qualidade, para todos os trabalhadores, não somente para os que estão tratando os pacientes da Covid-19. A Fundação Municipal de Saúde (FMS) e o HUT informaram, por meio de nota, que asseguram a aquisição constante de EPIs para toda a equipe da área da saúde e garantiu o adicional de 40% aos profissionais que estão trabalhando diretamente no enfrentamento à Covid-19, que será feito por meio de folha suplementar.
Já em Belo Horizonte (MG), uma projeção com a mensagem “sem enfermagem não tem Brasil” foi exibida no Edifício JK. Em Uberlândia (MG), servidores do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) realizaram um ato em defesa da vida e de melhores condições de trabalho para os profissionais que atuam cotidianamente no combate ao novo coronavírus. Em silêncio, em frente ao hospital, eles seguraram cartazes pedindo equipamentos de proteção individual, flexibilização da jornada de trabalho e alertaram para os riscos da Covid-19. Em Betim (MG), os servidores não puderam participar do ato, devido às ameaças constantes no local de trabalho. Diretores do Sindicato dos Servidores Municipais de Betim fizeram o ato na portaria do Hospital Regional de Betim exigindo valorização e respeito ao profissional da Saúde.
Em São Paulo, no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP) os trabalhadores da saúde realizaram ato e reivindicaram EPIs e testes para todos os funcionários da linha de frente de combate à Covid-19. Além da implementação da fila única no SUS, que é a garantia ao acesso universal e igualitário a todos os pacientes graves do novo coronavírus que necessitem de leitos de internação e terapia intensiva tanto nos hospitais públicos quanto dos hospitais privados, sem distinção de classe social. Na segunda-feira (11), o Hospital do Servidor Público Estadual, na capital paulista, homenageou enfermeiros, técnicos e auxiliares de saúde que combatem o coronavírus com projeção de fotos da atuação dos profissionais na fachada do prédio.
No Rio de Janeiro, profissionais do setor da saúde realizaram um protesto em frente ao Hospital Universitário Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense (Huap-UFF). Servidoras e servidores presentes portavam cruzes com nomes de Maria Ignez Marques Procópio, Luciana Roberto de Souza e Célia Bastos Pereira, profissionais que perderam suas vidas devido à Covid-19. Também foi reivindicado mais testagem e EPIs para todos, contratação de mais profissionais, além da defesa do SUS e do isolamento social, e pela saída de Bolsonaro e Mourão da presidência.
Reivindicações
Enfermeiras e enfermeiros defenderam também, no dia 12 de maio, pautas históricas da categoria, como a carga horária de 30 horas para todos os profissionais, a aposentadoria especial, piso salarial, além da defesa do SUS.
Para Antonio Gonçalves, presidente do ANDES-SN e profissional da área da Saúde, a data é um dia não apenas comemorativo da profissão e da sua importância para a estruturação e assistência em saúde, mas também um dia de luta por melhores condições de trabalho.
“No Brasil, a morte dos profissionais de enfermagem, devido a Covid-19, tem sido muito alta porque eles estão muito expostos. Eles fazem o cuidado dos pacientes, é um contato mais intenso e duradouro. O ANDES-SN defende a luta por melhores condições de trabalho de enfermeiros e enfermeiras começando por melhores formas de contratação, que tem sido muito precarizada com o processo de desmonte do SUS e de mercantilização da saúde; por salários melhores, que, em sua maioria, tem sido muito abaixo das necessidades básicas da profissão; por uma carga horária que não fragilize esses profissionais; e a garantia do acesso aos EPIs, no contexto da pandemia”, defendeu Antonio.