Depois de quase dois anos de reivindicação e luta, o Conselho Universitário (Consuni) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) concluiu, na última quinta-feira (17), a discussão sobre cotas na instituição e o caso da estudante Amanda Gomes. Com 57% dos votos válidos, a sessão do Consuni deliberou que deve ser feita a revisão dos atos administrativos que indeferiram a matrícula da estudante.
Em nota, a Associação dos Docentes da Unirio - Seção Sindical do ANDES-SN (Aduniro SSind), ressaltou que "a representatividade do apoio à causa da discente, porém, pode ser considerada ainda mais ampla dentro da comunidade acadêmica do que expressa esse resultado, haja vista que cerca de 10% dos votos do conselho, atualmente, são de membros não eleitos, designados pelo reitor".
A sessão do Consuni do dia 17 foi o quarto evento a dar continuidade à 506ª sessão, iniciada em 3 de setembro. A reitoria, porém, só permitiu que o ponto reivindicado pela comunidade acadêmica fosse colocado em pauta no dia 10 de fevereiro. "Ainda assim, interrompeu bruscamente a discussão naquele momento, deixando dois blocos de conselheiros inscritos perplexos diante do autoritarismo", relata a Adunirio SSind.
O tema foi então recolocado em pauta na última semana e, como resultado, ocorreu a deliberação pela revisão dos atos administrativos da reitoria. "Demonstrou-se, assim, que a estratégia da reitoria de vencer os conselheiros pelo cansaço não funcionou e acabou, além disso, desgastando ainda mais a imagem da reitoria", afirmou a seção sindical do ANDES-SN na Unirio.
Durante a discussão, a reitoria tentou, ainda, utilizar como argumento favorável à sua posição os efeitos da sua própria resistência para discutir o caso. "Tentou constranger os conselheiros alegando que não poderiam deliberar sobre uma disputa que a reitoria se esforçou para restringir ao campo judicial por um ano. Os presentes, porém, reafirmaram seu compromisso com o direito da estudante ter seu processo devidamente revisto e de ser reintegrada à universidade", informou a Adunirio SSind.
Entenda o caso
Amanda Silva Gomes é uma jovem negra, atriz, diretora artística e professora de teatro da companhia de teatro Megaroc, de Realengo. Foi aprovada em primeiro lugar nas vagas de ação afirmativa do vestibular 2020.1 para o Curso de Licenciatura em Teatro na Unirio, algo que permitirá aprimorar seu trabalho como professora de teatro, realizado desde 2013 na zona oeste do Rio de Janeiro – uma área periférica esquecida pelas políticas públicas de cultura e educação.
Entretanto, a administração da Unirio indeferiu a matrícula de Amanda após orientar de forma equivocada o procedimento para a realização da mesma. Depois disso, a instituição tem mobilizado seu aparato administrativo e jurídico para impedir que a injustiça seja reparada. Amanda conhece pelo menos mais três cotistas que também tiveram problemas com a sua integração na Unirio.
O movimento #AMANDAFICA produziu um abaixo-assinado que já conta com cerca de 30 mil assinaturas de apoio.
Para Amanda Silva, o cancelamento da sua matrícula representa um obstáculo com várias camadas, que passa pelo equívoco e pelo autoritarismo de uma burocracia que perpetua exclusões. “Há uma falta de cuidado e zelo em garantir ao aluno, o direito ao estudo”, explica a estudante. “É necessário atenção e orientação específica aos alunos cotistas, já que para nós, a quantidade de documentação requerida é muito maior”, completa.
*Com informações e imagens da Adunirio SSind.