Uma operação da Polícia Civil deixou ao menos 25 mortos na comunidade do Jacarezinho, localizada na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, na manhã de quinta-feira (6). Moradores e moradoras do Jacarezinho relataram nas redes sociais ouvir os tiros de fuzis, invasão às moradias, e veículos blindados e helicópteros da corporação na comunidade. Vídeos também foram publicados mostrando o forte aparato da polícia e o resultado da ação. Um policial civil, André Frias, e outras 24 pessoas morreram durante a ação. Dois passageiros de metrô e um morador foram atingidos por balas perdidas, mas sobreviveram. Dois policiais também se feriram na operação.
A ação foi descrita como uma verdadeira chacina contra a população em meio à pandemia da Covid-19. Além disso, a ação policial desrespeitou uma decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou, em junho de 2020, a suspensão das operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro durante a pandemia, com permissão somente em "hipóteses absolutamente excepcionais". Nesses casos, seriam necessárias justificativas por escrito pela autoridade competente, com a comunicação imediata ao Ministério Público do Estado, que é responsável pelo controle externo da atividade policial. O MP disse, em nota, que só foi “comunicado às 9h sobre a operação realizada na manhã de quinta-feira (06/05), na comunidade do Jacarezinho”. Já à imprensa, a Polícia Civil afirmou que a operação teve início às 6h.
O ANDES-SN publicou uma nota de repúdio à chacina em Jacarezinho. “O dia 06/05/21 ficará marcado como mais uma ação do genocídio em curso como política do estado brasileiro. Uma ação organizada para matar sumariamente moradoras e moradores da favela do Jacarezinho no Rio de Janeiro e que escancara as relações nefastas entre a milícia, governo e polícia por meio de um aparato Estatal sofisticado que se soma a ideologia burguesa que criminaliza corpos negros, pauperizados e legitima esse massacre.” Na manhã desta sexta-feira, (7), representantes do ANDES-SN no Rio de Janeiro participaram de atos contra a operação policial.
Para o Sindicato Nacional, a ação não pode ser classificada como uma “operação desastrosa”, mas sim um assassinato calculado “para desafiar as instituições republicanas, para demonstrar a disposição em promover uma guerra civil contra o Estado Democrático. E fazem isso matando vidas negras e pobres! É preciso reação imediata e contundente da sociedade, não podemos aceitar a impunidade como normalização do genocídio. Apuração e responsabilização já!”.
Além do ANDES-SN, diversas entidades, organizações, coletivos e sociedade em geral se manifestaram contra a operação policial. Nesta sexta (7) foi feito um apelo aos integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU) e a membros da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que faz parte da Organização dos Estados Americanos (OEA), para que seja cobrado do Estado brasileiro um posicionamento diante do ocorrido, assim como uma investigação dura e independente do episódio.
Chacinas
Até o momento, a chacina em Jacarezinho é considerada a mais letal da história da cidade, com 25 pessoas mortas em um dia de operação. Logo em seguida, aparece a do Complexo do Alemão em 2007, com 19 mortes. Já as chacinas de Vigário Geral (1993), com 21 mortos, e da Baixada Fluminense (2005), 29 mortos, foram provocadas em operações extralegais por grupos de extermínio.
Segundo o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), de junho de 2020 a fevereiro deste ano, ocorreram mais de 400 operações policiais. No mês de março deste ano foram 40 operações policiais nas comunidades, o que representa mais de uma por dia.
Acesse aqui a nota da diretoria do ANDES-SN em repúdio a chacina
*Com informações de Ponte Jornalismo
Saiba Mais
STF suspende operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro durante a pandemia